Escola quilombola do Sul do Paraná preserva a cultura do povo negro
A escola é a guardiã da cultura do povo negro na comunidade quilombola Adelaide Maria da Trindade Batista, em Palmas, no Sul do Paraná. Cerca de 250 estudantes frequentam as aulas no Colégio Estadual Quilombola Maria Joana Ferreira, que tem uma proposta curricular própria e o desafio de oferecer uma educação de qualidade, aliada à preservação da identidade histórica do quilombo.Na próxima sexta-feira (22), a escola fará uma exposição para mostrar o trabalho diferenciado. Alunos, professores e funcionários esperam a visita de outras escolas para conhecer os trabalhos pedagógicos, artesanais e culturais desenvolvidos no colégio Maria Joana Ferreira.
Além de celebrar o Dia Nacional da Consciência Negra, comemorado nesta quarta-feira (20), a exposição serve para aproximar os visitantes, desmistificar preconceitos em relação à escola e à comunidade e valorizar a resistência do povo negro.
“Fazemos o nosso currículo. Nós somos a escola e ela é o nosso porto seguro. Em todos os conteúdos das disciplinas estão atrelados conceitos das relações etnicorraciais. O nosso trabalho está presente no nosso dia a adia”, destacou a pedagoga Maria Isabel Cabral da Silva.
As oficinas para contar histórias que ajudaram os alunos a reconheceram a importância de narrar a história de um ponto de vista próprio, o da superação. Com material reciclável, eles fabricaram fantoches para representar a história e além de contá-la entre eles, também fazem a narração em casa.
As atividades desenvolvidas na escola quilombola ainda incentivam os alunos a respeitar o meio ambiente. Na disciplina de Arte, por exemplo, eles usam sementes, frutos e flores da região para compor trabalhos.
No contra turno são oferecidas aulas de artesanato, jogos matemáticos, capoeira, futebol de salão e cultura digital. No artesanato são produzidas bonecas abayomi, que durante o período da escravidão eram confeccionadas pelas mães escravizadas para consolar seus filhos e protegê-los.
As bonecas eram feitas com nós dos tecidos rasgados das próprias vestes das mães. “A boneca simboliza um encontro precioso entre as pessoas. Ao se dar uma abayomi para outra pessoa, busca-se passar prosperidade, força e luz”, explica a pedagoga.
Os alunos também aprendem a broia, uma técnica de tecelagem manual em que se desfia o próprio tecido para fazer os nós, semelhante ao macramê.
Nas atividades de raciocínio lógico matemático, os professores trouxeram jogos de origem africana para contribuir no ensino dos alunos – o mancala e o tsoro yematatu (jogos estratégicos de tabuleiro). Até mesmo algumas competições são realizadas entre professores e alunos com o objetivo de aprendizagem e de maior integração entre eles.
Além da capoeira, também há atividades de danças africanas para valorizar a identidade e a cultura negra.
COMUNIDADE – A comunidade Adelaide Maria Trindade Batista recebeu este nome para homenagear a matriarca fundadora e primeira liderança do então quilombo São Sebastião do Rocio. A fundação do quilombo data de 1834, quando negros acompanharam desbravadores para povoar a região de Palmas. No quilombo ainda existem duas outras comunidades: Castorina e Tobias Ferreira.
A comunidade procura preservar sua cultura, que teve algumas modificações com o crescimento urbano de Palmas. “Nós abraçamos a causa, mostramos que o povo não pode ficar na mesmice. Não ficamos indiferentes porque a escola está na comunidade e a comunidade está na escola”, comentou a professora Mara Lúcia da Rosa, que é quilombola.
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